Como já disse, o Benfica entrou em campo com apenas um central de origem: Iceman Lindelof. Ao seu lado alinhou Samaris e à frente da defesa Fejsa. De resto, não houve grandes surpresas: Ederson manteve-se na baliza, Semedo substituiu o André e o Pizzi continuou a jogar à direita. A primeira parte foi relativamente tranquila. Diria mesmo que foi o Benfica que esteve superior. Teve a primeira oportunidade do jogo num livre bem marcado pelo Jonas. O Zenit respondeu num perigoso remate cruzado do Dyzuba mas o Glorioso cedo respondeu com um remate perigosíssimo ao lado do poste do miúdo Renato. No final da primeira parte os russos voltaram a ameaçar mas uma saída atenta do Ederson evitou males maiores. Saímos assim para o intervalo tranquilos sem nunca ter passado por um sufoco e até perto de matar a eliminatória.
Na segunda parte o jogo mudou. Eles não tiveram assim tantas oportunidades mas começaram a pressionar muito mais. Por duas vezes apareceram sós frente ao Ederson mas falharam. O Benfica até teve uma boa oportunidade que o Jonas não aproveitou mas seriam mesmo os russos a marcar. A jogada começou numa falta clara do Zhirkov sobre o Semedo. Contudo, o árbitro não marcou (uma das muitas vezes em que não o fez) e aquele acabou por chegar à área isolado para cruzar para o golo de Hulk, que empatou a eliminatória. Quando tudo parecia jogar contra nós, os nossos heróis ergueram-se. Levantaram a cabeça, seguiram em frente determinados e podia jurar que à volta de cada um deles vi uma espécie de aura, uma Mística que parecia algo apagada há algum tempo. E há que fazer uma pausa para dizer o que houve naquele momento.
Houve Benfica.
É verdade, provou-se que o facto de ser Benfica mais uma vez pode resolver jogos. Logo após o golo, o Enorme foi para cima do Zenit. Ainda não havia passado cinco minutos do golo e já o Lindelof obrigava o Lodygin a uma grande defesa. É certo que o Zenit ameaçou numa jogada individual do Dyzuba, mas mais uma vez o Ederson resolveu a situação de maneira competentíssima. E foi assim que, a cinco minutos do fim, quando já o Zenit jogava para o prolongamento, que se deu o momento chave, o momento que matou a eliminatória. O Jimenez recebeu a bola a uns bons trinta e cinco metros da área, recebeu-a com o joelho, deixou-a bater no chão e, de maneira imprevisível, rematou de forma estrondosa. Poderia ter sido um golaço, mas o guarda-redes russo voou e fez uma defesa impressionante contra a barra. A bola ressaltou para a frente e apareceu a correr, vindo de trás, o capitão, o mestre Nico Gaítan a fazer o golo de cabeça. Festa total no relvado. Jogadores, Rui Vitória, todos a soltar um grito de revolta, um grito de festa, pois estava encontrado o vencedor da eliminatória. Porém, no Benfica joga-se sempre para ganhar e os jogadores sabiam disso. Assim, na última jogada, o Nico recuperou a bola deu no Talisca que tirou um da frente com um toque subtil e rematou rasteiro para o dois-a-um. Brilhante.
Foi uma excelente exibição de toda a equipa que soube fazer das fraquezas forças para assegurar a passagem e ainda garantir a vitória. Contudo, há que destacar dois jogadores: o Fejsa e o Samaris. O primeiro fez um jogo estupendo (talvez a sua melhor exibição com o manto sagrado), estando em todo o lado a recuperar bolas. Um polvo. O segundo fez um jogo brilhante a central, um jogo de esforço, dedicação e sacrifício cumprido com mestria um papel que nunca é seu e acabando mesmo incluído na equipa da semana da Champions. Porém, não deixo de destacar ainda o Lindelof, o Renato ou o Gaítan, que fizeram sólidas exibições também.
Mais uma vez, o Benfica deu uma lição a todos. Uma lição de humildade, de força, de raça, à Benfica. Mostrou que é nas adversidades que o nosso clube voa alto como a águia que carrega o peito. Para mim, volta a ficar a sensação que cada um daqueles que luta por nós está feliz, que é cada vez mais parecido com um adepto e que deixaria tudo em campo pelo nosso lema, E Pluribus Unum. Tenho de pedir desculpa ao Rui, pois não acreditei nele. Dou a mão à palmatória: apesar de talvez não ser o melhor treinador, conseguiu unir esta equipa, transformá-la numa família em que cada um estaria disposto a dar a vida pelo outro, e no meio disto tudo ainda fazer dessa família um grupo vencedor. Apesar dos poucos recursos que lhe deram, soube aproveitá-los melhor que ninguém e, que se saiba, nem Renato, nem Ederson nem Lindelof tiveram de nascer três vezes. E isto tudo sem cérebro. Lá vai o nosso Ferrari a alta velocidade, a desaparecer no horizonte. E agora pés bem assentes no chão. Temos a primeira das nossas nove finais Segunda-feira e há que encará-la como encarámos os últimos dois jogos.
Termino apenas agradecendo: obrigado Rui, obrigado equipa, por terem despertado em nós aquela Mística, aquele Benfica Gigante, Enorme, Europeu, Vencedor, aquele Benfica de solidariedade, de luta, de família que já há muito não víamos.
Amo-te, meu Sport Lisboa e Benfica.
Zenit 1-2 Benfica
Nico
Talisca