Absolutamente épico. Este jogo vai directamente para um dos maiores lugares na minha memória. Foi quase um conto que se conta às crianças em que o Bem, de forma espectacular, suplanta o Mal. Apenas um Benfica enorme, um Benfica à Benfica, lutador e inteligente, seria capaz de superar este desafio perante todas as adversidades que se lhe opuseram. E sim caro leitor, o Benfica fez jus ao seu nome.
As alterações para este jogo foram as típicas na Taça de Portugal: Artur, Salvio e Cardozo em detrimento de Oblak, Markovic e Lima, e Jardel no lugar de Luisão devido à lesão do capitão. E para ontem, o mestre Jesus deixou-nos uma surpresa: André Gomes em detrimento do lesionado Fejsa. O jogo começou da maneira que se esperava: o Benfica a pressionar alto e o Porto todo"borrado", a tentar defender a sua preciosa vantagem. A nossa pressão inicial resultou num falhanço do Salvio, logo aos quatro minutos, após cruzamento do Rodrigo. Foi o primeiro aviso para o golo que havia de surgir aos dezassete minutos: bom entrosamento a meio-campo, bola para o Gaítan, que cruzou para o lado oposto da área onde apareceu o Salvio, a fuzilar o Fabiano de cabeça e a abrir o marcador. O Estádio da Luz, que já estava em festa, explodiu. O Benfica sentiu o apoio, e a pressão não parou.
Contudo, aos vinte e sete minutos, sofremos um duro revés, porque o Siqueira, ao receber o segundo amarelo, com a estupidez que o caracteriza nalguns lances, deu-se ao luxo de ser expulso, o que dificultou a nossa tarefa. Oito minutos depois entrou o remendo André Almeida - um belo remendo, diga-se - para o lugar do sacrificado possível Óscar Cardozo. Até ao final da primeira parte, o Porco manteve a bola, mas sempre sem criar perigo.
Na segunda parte, o paradigma não se alterou: o Enorme muito organizado e o corrupto a tentar encontrar espaços, sempre sem perigo. Foi, por isso, algo surpreendente ver o Porco empatar o jogo: o Varela pegou na bola, entrou pelo meio da área perante a passividade do André Almeida e atirou a contar. E aí, meus amigos, eu pequei. Pequei não por falta de querer, mas por falta de crença. Não acreditei, por breves instantes, que o Benfica, com menos um, daria a volta à eliminatória. Mas devia ter acreditado. O Maior, a partir daí, cresceu, o Estádio da Luz começou a empurrar cada vez mais a equipa. Até que, aos sessenta e cinco minutos, dez minutos após o empate, numa arrancada do Salvio, o Reyes fez não uma, mas duas faltas, e o Proença, inacreditavelmente, marcou um penalty a nosso favor. Com a Luz em suspenso, o Jesus exigiu que o Enzo, sr. Enzo, marcasse o penalty. Bola para um lado, guarda-redes para o outro, e o resto é história. O Inferno estava, de novo, em polvorosa.
O Porto a partir daí, abanou cada vez mais, e o Benfica, mesmo estando potencialmente eliminado, nunca caíu na tentação de atacar loucamente. Aliás, num roubo de bola a meio-campo até podíamos ter marcado, não fosse o Rodrigo ter escorregado no momento da finta, até poderíamos ter marcado mais cedo. Mesmo assim, nunca a equipa deixou de acreditar que, num lance qualquer, acabaria por eliminar o Porco. E esse lance, esse lance mágico, surgiu a dez minutos do final: na esquerda do nosso ataque, o Lima (que entrou no lugar do Rodrigo), o Gaítan e o André Gomes ficaram a jogar à rabia ate que o mestre Nico passou para o André, que dominou de peito, passou por cima do Fernando com um pé, dominou depois de fintar e, com um pontapé, que chutou trinta anos de provações, trinta anos de injustiça, trinta anos de corrupção, trinta anos em que nos foi tirado o que era nosso, trinta anos de gozo e humilhação, de lágrimas, atirou a contar e a fechar o marcador e a eliminatória. A Luz explodiu, explodiu como poucas vezes a vi explodir, com a alegria de quem, finalmente, deixou aquela cicatriz da última temporada sarar. De quem já não tem medo de ser gloriosamente feliz. E, até ao fim, já nada interessou porque os últimos dezasseis minutos (dez mais seis de desconto) foram um festival de mau perder corrupto, que deu para o Jesus, o Luís Castro e o Quaresma serem expulsos. E, devo-vos dizer, nunca a Catedral ficou tão feliz ao ouvir um apito do desdentado.
O maior destaque vai, de muito longe, para a equipa como um todo. Porque foram Enormes. Porque nunca se conformaram. Porque mostraram a sua raça, o seu querer e crer e a sua ambição. Porque foram buscar forças ao fundo dos seus seres. Porque mostraram, que mesmo com Proenças, frutas, cafés com leite, NINGUÉM PÁRA O BENFICA! Porque foram Gloriosos. Porque foram Benfica. Até ao fim. Individualmente, o destaque vai para o gigante jogo de André Gomes, não só pelo golo, mas também pela grande exibição, que lhe saíu claramente do fundo da alma, e para o brilhante Salvio, que está mesmo de volta. No entanto, nada seria possível sem a magia do Nico e do Enzo, a alma do André Almeida, a segurança do Garay, a coragem do Jardel, o pulmão e a raça do Maxi, e a crença do Lima e do Rodrigo. A todos eles, e também ao Estádio da Luz, um gigante obrigado, porque ontem demos uma das maiores estocadas neste regime corrupto, à beira de cair. Todos nós fomos o Glorioso.
Escreveu-se, assim, uma das páginas mais bonitas da nossa história, e volto a salientar a importância desta Enorme vitória na queda do Sistema. Ontem, viu-se Benfica à Benfica no Inferno da Luz.
Benfica 3-1 Porco
Salvio
Enzo
André Gomes